Jardim Botânico: um roteiro para preservação no Rio

A decisão, de ontem, do Tribunal de Contas da União (TCU) foi construída estrategicamente: ela faz uso da competência constitucional daquele Tribunal de fiscalizar o patrimônio público em vários de seus aspectos, dentre eles o da legalidade e o da legitimidade.  A independência do Tribunal se revela pelo fato de ele não pertencer à estrutura do Poder Executivo, mas ser órgão auxiliar do Legislativo.  O que, diga-se de passagem, não eliminaria, ainda estrategicamente, um último apelo ao Poder Judiciário sobre a questão.

De qualquer forma, dois aspectos são relevantes na decisão: o primeiro é que ela foi baseada na construção interpretativa  de um conjunto de leis – administrativas, ambientais e culturais – que diferenciam a proteção daquele bem público, o Jardim Botânico, em relação a outros bens públicos em geral.  O segundo aspecto consiste no fato de que a decisão não esgota o problema, pois providências administrativas hão de ser tomadas para ratificação de seus efeitos, e que podem e devem ser tomadas com cuidado e zelo.

Um terceiro aspecto merece também destaque: ela representa uma difícil opção interpretativa em relação a um conflito entre direitos constitucionais de proteção ao bem público cultural e ambiental e direitos individuais à moradia.

O dilema enfrentado pelo Tribunal  foi o de como fazer para harmonizar, na medida do possível, o exercício dessas prescrições constitucionais.

A solução acolhida é aquela que defendemos: a de que o direito individual de moradia pode e deve ser garantido a todos que dele necessitam, por meio de um política de amplo acesso aos inúmeros bens, públicos ou privados, disponíveis para tal. No entanto, esses ou outros direitos individuais não podem e não devem prevalecer sobre direitos públicos gerais que, no caso do Jardim Botânico, não tem como existir senão naquele local.

Finalmente, há de ser fazer uma última observação.  Não é justo tratar a todos os ocupantes da área do Jardim Botânico, pejorativamente,  como invasores.  Invasor é aquele que toma terreno alheio de forma clandestina e violenta.  

No caso do Jardim Botânico, os ocupantes que lá estão, na maioria dos casos, têm a concordância ou a complacência do próprio poder público no trato daquele bem público preservado. Portanto,  não habitam o local clandestinamente ou por meio da violência.  O mesmo se pode dizer das instituições públicas, concessionárias, e ONGs ali sediadas.  Logo, o tratamento deve ser igual para todos, com um plano geral – pacífico, organizado e com prazos corretos – de desocupação e recuperação da área pública.

Esperamos que este mesmo tratamento de preservação de bem público especialmente protegido seja dado também a outros parques da Cidade, igualmente protegidos, como o Parque do Flamengo que, na sua área denominada Marina da Glória, vem sendo, nos últimos anos, também objeto de apropriação privada, neste caso não para moradias, mas para se tornar centro de atividades comerciais de negócio turístico de uma empresa privada.

Isonomia de tratamento é bom, e eu a defendo até o fim.

 

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11 Resultados

  1. Boa tarde,o Alfredo Piragibe,nós chama de invasores,nós que moramos aqui com direitos concedidos pelo proprio governo,aqui existem familias centenarias …Agora pergunto ,e as mansões que estão dentro da reserva florestal quem deu o direito para elas estarem lá ? em um comentario que fiz em outro site,esse mesmo senhor copiou e colou em sei site me recriminando por fazer certos questionamentos que para mim não estão esclarecidos,uma de minhas perguntas, para onde vai o esgoto do parque ? pq ele não ataca o clube 17 que despeja grande quantidade se sujeiras no rio dos macacos e o Toalheiro Brasil que despeja quimicas fortissimas direto no rio ? em uma de suas respostas me recriminando ele disse essa frase : ( SERÁ QUE ALGUÉM JA AVISOU A ESSA SENHORA, SIMONE ,QUE A LEI É PARA TDS ) ENTÃO QUE FIQUE AQUI BEM CLARO QUE ESSA LEI SERVE PARA AS MANSÕES QUE AI FORAM CONSTRUIDAS DENTRO DA REVERSA FLORESTAL TMBM E ACABO DEIXANDO UM PERGUNTA QUEM DEU O DIREITO PARA ELES COMPRAREM O QUE O PIRAGIBE CHAMA DE ILEGEL.? ATT.

  2. Cel.Hug disse:

    Bem colocada a questão, pois a cidade do Rj, carece de isonomia entre seus cidadãos!!

  3. Drª Sandra Rabello, muito obrigado por não nos titular como invasores e abordar esta questão de forma séria e clara como deve ser tratada. Quero aproveitar a oportunidade e declarar que nós moradores do Hôrto amamos o Parque do Jardim Botânico como todo os moradores do Rio de Janeiro também amam e e vivemos em plena harmonía preservando a fauna e também a flora que se debruça por cima de nossas moradas porque aprendemos isto pelos nossos pais, antigos funcionários do J.B. e Hôrto. A Srª por suas declarações acima, mostra que tem ciência e conciência da História dos moradores do Hôrto em que á nossos pais foi cedido certo terreno entre o parque J.B e o Solar da Imperatriz, que era um lugar ermo a não havia plantação de arvoredo significativa a não ser de eucalípitos que em sua maioria foram devastados por uma “tromba d’agua” que caiu por volta da década de 50 sobre a cidade, para que estes contruissem suas casa com o propósito de estabecerem-se próximo ao seu local de trabalho. Por tanto Drª Sandra Rabello, nos machuca muito ser taxado pela mídia tendênciosa e capitalista, classes sociais elitístas e por parte de políticos de seu PV que não passamos de “despresíveis invasores” jogando e sendo massacrados pela opinião pública como meros bandidos e não como seres humanos como todos nós, inclusive aqueles que nos detratam, somos.
    Finalizando, quero saber que JUSTIÇA é esta que bate sem contemplação o martelo sôbre nossas cabeças e são totalmente comtemplativos com as inúmeras mansões que proliferam ao entorno da floresta desmatando-a sem dó ou piedade, e estão absolutamente nas mesmas condições que nós, povo trabalhador e digno do Hôrto!!??
    Mas um vez muito obrigado por sua lucidez e sobriedade.

  4. Quem ama cuida.Só teremos o Jardim bem cuidado com a retirada dos moradores invasores de lá.

  5. A candidata deveria comentar também que o IPJB passa pela mesma degradação do parque do Flamengo pois a direção do IPJB já entregou parte de sua área para a iniciativa privada instalar teatros, cinema, lanchonete e loja de conveniência, faça=me o favor vereadora, abra os olhos para esta irregularidade que o TCU também deveria julgar com o mesmo rigor que julgou o direito a moradia dos moradores do Horto, Esta pretensa defesa ambientall camufla os reais interesses escusos do Liszt e seus seguidores.

    • Sonia Rabello disse:

      Obrigada por todos os comentários a este post. Reafirmo minhas convicções quanto ao tratamento isonômico a ser dado não só ao espaço do Jardim Botânico, mas também a todos os espaços públicos que vem sofrendo ocupações de suas áreas protegidas, como o Parque do Flamengo, e a APA de São José em Laranjeiras, a Serra de Misericórdia, a Ilha de Bom Jesus, todos comentados em meu site.

  6. Sábias palavras Dra. Sonia.

  7. maria lidia disse:

    dra Sonia obrigada, pelas suas palavras, sou moradora, é primeira vez que alguem, usa a palavras sábiamente, nos retirando o rótulo de invasores, e sim de seres humanos, que ali residem, errado ou não lhe foram, dado esse direito, o que me deixa triste é que só os pobres, são taxados de invasores, as MANSÕES que ali se encontram nada aconteçe, são protegidas pelo status, dos mesmos que as construiram, e ainda, fazem campanha p/ nos retirar, isso é mais absurdo ainda. Att.

  8. A solução encontrada visa preservar um patrimônio que é do mundo inteiro, pela sua beleza e história, ambas clássicas. Demorou e se ocorrer postergação na adoção das medidas, a situação pode piorar. É difícil, como frisou a vereadora, envolve muita coisa. Mas o poder público tem obrigação de corrigir seus erros e ainda bem que ocorrem tentativas nessa direção. O Rio está numa fase histórica especialíssima, num ciclo de recuperação que só se compara talvez aos atos do prefeito Pereira Passos no século passado. Sorte e força!

  9. O Jardim Botãnico pertence aos que o visitam.Para preserv´-lo os invasores têm que sair delá o mais breve possível.

  10. Maria helena disse:

    Dra.Sonia, Parabéns, pelo menos neste item suas denúncias foram levadas a sério! Hoje assisti a outra denúncia em Caxias, por uma empresa reincidente na falcatrua, inclusive com mortes no resultado e quem apareceu por lá? O Minc. Diferente da sra. que ANTECEDE, denuncia, ele sempre chega atrasado. Acho q ele devia mesmo ficar longe do Rio (em BSB p.ex.), junto ao Moreira Franco para não atrapalhar o trabalho dos outros Verdes. Espero q suas outras denúncias, suas outras preocupações tb tenham o mesmo destino, porém, acho que a maior falcatrua q está ocorrendo nesta Cidade, neste Estado, são o E.Paes e o S.Cabral. Quando vão “se mandar” daqui para BSB, S.Caetano,Sorocaba,etc? Um impeachment talvez resolvesse este caso de vez. Eu Aprovo. Obrigada por seu amor ao Rio.Abs

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