Perimetral: o caos anunciado e não debatido

Nesta segunda-feira, primeiro dia útil após a interdição do Elevado, uma das principais ligações das Zonas Norte e Oeste da Cidade ao Centro da cidade, milhares de cariocas  foram obrigados a terem uma dose extra de paciência em relação ao trânsito no Rio.

Como era previsto, caos e transtornos, tempo de viagem dobrado e falta de informações. Tudo feito sob a política do rápido e do mal feito, com alguns testes e implosões apressadas, para que uma decisão pessoal, de responsabilidade questionada por inúmeros segmentos sociais, fosse (im) posta imediatamente em prática.

A implosão da Perimetral está prevista para o próximo dia 17, mas a extensão do trecho a ser demolido ainda não foi definida. Segundo informações, até quarta-feira, o prefeito deverá “revelar” detalhes. Um “planejamento” no qual não estamos inseridos, sem direito à satisfações antecipadas.

Na noite do último sábado, sem aviso prévio, a Prefeitura já demoliu dois trechos de 40 metros de comprimento das pistas do Elevado. Retirado o asfalto, o concreto foi ao chão, sobrando apenas pilares e vigas de aço.

Nada foi capaz de comover a firme e inabalável determinação de um único homem disposto ao “bota abaixo” que já disse contar com a “compreensão da população neste momento de turbulência no trânsito”.

A prefeitura arcará com os custos da implosão e da reurbanização, estimados em R$ 592 milhões. Parte dos recursos deverá vir de um financiamento do BNDES já solicitado pelo Município.

Uma grande obra de engenharia: por que demolir ?

Como a história explica tudo, republicamos o fantástico depoimento do arquiteto Armando Abreu, ex-subsecretário de Obras e de Planejamento, que lembra à população carioca como e porque esta incrível obra de engenharia, que é o elevado da Perimetral, foi construída.

Ainda que não refresque a memória do poder público e o ajude a repensar as decisões “irreversíveis” que foram tomadas, vale o registro:

“Ilma Sra. Dra. Cristina Lodi

MD Superintendente do IPHAN no Rio de Janeiro

Em 1967, quando o Governo do Estado da Guanabara, através da SURSAN resolveu construir o prolongamento da Avenida Perimetral, além do trecho existente entre o Aterro do Flamengo até às imediações da Candelária, verificou-se que o Projeto à época previa um túnel a ser perfurado no Morro de São Bento.

Consultado o IPHAN, este negou essa possibilidade por falta de garantia de que não haveria abalos no Mosteiro de São Bento.

Depois de várias hipóteses de ligação entre a Praça XV de Novembro e a Praça Mauá, optou-se por um contorno ao Morro por cima do Distrito Naval.

Como eu participei, com sucesso, na remoção do Restaurante do Calabouço e dos Clubes Náuticos afim de permitir a execução do Trevo dos Estudantes e a urbanização de toda a área do Museu de Arte Moderna, obras que foram realizadas em apenas quatro meses, o Secretário de Obras, Raymundo de Paula Soares, me designou como uma espécie de negociador tendo a missão de convencer o Comandante do Distrito Naval, Almirante Jordão, a aceitar a passagem do elevado pela área daquele Distrito.

Quando tudo parecia que seria negado, ao receber uma resposta de que só haveria uma possibilidade de concordância: `só se o Ministro autorizar´.

Corri ao Secretário pedindo que conseguisse uma audiência com o Ministro Augusto Hamman Rademaker, que não só autorizou, como pediu que a obra fosse feita rapidamente.

O trecho da Praça Mauá é uma obra de estética admirável, com um vão central de 93 metros, o maior na época.

Gostaria de saber se agora o IPHAN já admite a perfuração no Morro do Mosteiro de São Bento para a execução de um túnel que ligará o mergulhão da Praça XV de Novembro ao mergulhão da Avenida Rodrigues Alves.

Atenciosamente

Armando Ivo de Carvalho Abreu

Arquiteto aposentado da Prefeitura da Cidade o Rio de Janeiro

Ex Subsecretário de Obras e de Planejamento.

Coordenador Executivo do PUB-RIO – Plano Urbanístico da Cidade do Rio de Janeiro.

Membro do Conselho Diretor da SEAERJ e Conselheiro do Conselho Consultivo do Centro Cultural da SEAERJ

Membro do Conselho Municipal de Política Urbana – COMPUR”

Em tempo, no decorrer dos últimos meses, vimos que o atual gestor municipal,  por diversas, vezes, voltou atrás, seja para melhor ou pior, em suas decisões. E, em uma dessas ocasiões, em meio à várias críticas da sociedade, tombou os prédios e equipamentos esportivos que seriam demolidos por causa da privatização do Maracanã, incluindo no rol de espaço protegidos o Estádio de Atletismo Célio de Barros, o Parque Aquático Julio Delamare, a Escola Municipal Friedenreich e o prédio do antigo Museu do Índio.

Poderia ter repensado também no caso da Perimetral, consultando a sociedade antes de demolir um equipamento histórico, cuja justificativa é tão imprecisa quanto a aposta feita.

Leiam também o artigo “Picotando a Perimetral (e imobilizando o Rio)”, do cientista social Guina Ramos.

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3 Resultados

  1. Nome*nunes disse:

    O consumismo capitalista em prol do progresso é perfeito para os politicos deste Brasil amaldiçoado, com um povo mecernario que se vende por ninharia, favorece a esta classe de desconstrutores da nação.
    Quanto será que estes politicos da ocasião irão receber para a campanha de 2014 para repassar uma parte para o famigerado povão mercenario deste país?

  2. Celso disse:

    O problema do prefeito é a percentagem dos R$ 592 milhões que ele vai usar na campanha do ano que vem. Ano eleitoral no Brasil é isto, como exemplo a transposição do rio São Francisco, agora a dos médicos Cubanos, tudo não para resolver problemas mas para criar oportunidades de retorno para as campanhas eleitorais, descaradamente.

    • Nome*nunes disse:

      Parabens, Celso, pela sua analise dos fatos e a conclusão.
      O proposito de existir governo é cuidar dos interesses e bem estar do povo, Para o governo atual quanto mais caos melhor, só assim gastam mais desnecessariamente e ganham mais por fora, distribuem de forma populista as sobras para um povão que não contribue com a nação, apenas recebe e tudo que é de graça, não se dá valor.

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