A Tijuca no século XX

Uma cidade dentro da cidade do Rio de Janeiro

 (…) dobra a Carioca, olerê/ desce a Frei Caneca, olará/ se manda pra Tijuca/ sobe o Borel”. “Pivete”, de Chico Buarque de Hollanda e Francis Hime

No último número falamos sobre a formação do bairro da Tijuca e seu desenvolvimento até o final do século XIX, quando a região, antes constituída por chácaras, se consolidara como zona residencial urbana. No século XX, a Tijuca se caracterizará como uma cidade dentro da cidade do Rio de Janeiro.

Na Tijuca do século XIX, já se encontravam importantes indústrias como, por exemplo, a Fábrica das Chitas e a Fábrica de Fumos de Borel e Cia (1854). Em 1910, Albino Souza Cruz comprou uma antiga fábrica de rapé, situada na Usina, e transformou-a na famosa Souza Cruz. A Companhia Cervejaria Hanseática, situada à Rua José Higino, veio a se tornar a fábrica da Brahma.

Em 30 de abril de 1911, o largo da Fábrica Chitas passou a se chamar Praça Saens Peña, que se tornaria o ponto nevrálgico do bairro, reunindo atividades comerciais e culturais à efervescência social.

As fábricas geraram muitos empregos e, conseqüentemente, uma densa ocupação do lugar por uma população de baixa renda que passou a ocupar os morros, dando origem às favelas. O morro do Salgueiro deve seu nome a Domingos Alves Salgueiro, proprietário de uma fábrica de conservas, situada à Rua dos Araújos.

Paralelamente ao crescimento industrial, intensificou-se o comércio no bairro. Em 1930, por exemplo, a primeira filial da Farmácia Granado foi inaugurada na Rua Conde de Bonfim.

Com o desmonte do Morro do Castelo, em 1922, a Igreja de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, foi transferida para uma nova igreja, situada à Rua Hadock Lobo, a Igreja de São Sebastião dos Frades Capuchinhos (1931), para onde foram transferidos a lápide tumular de Estácio de Sá e o marco de fundação da cidade.

O bairro foi se notabilizando por seu importante complexo educacional que incluía o Colégio Militar (1889), o Colégio Batista (1908) e o Colégio São José (1928). O Colégio Sul-Americano foi fundado em1898 e, em 1916, sua sede deu lugar ao tradicional Colégio Lafayette, voltado para o ensino técnico de rapazes. Já a unidade do mesmo colégio, situada à Rua Conde de Bonfim, ministrava cursos de datilografia e estenografia para as moças. Célebre foi também a escola normal do Instituto de Educação, criada em 1880, voltada para a formação de professores.

A Tijuca foi um dos primeiros pólos de exibição cinematográfica do Rio de Janeiro.

Na década de 1940, a Praça Saens Peña passou a ser conhecida como a Cinelândia da Tijuca ou Segunda Cinelândia Carioca, reunindo cinemas de rua como o América, Carioca, Olinda, Metro-Tijuca, Cinema 3, os de galeria como Bruni, Tijuca Palace e os poeirinhas Studio Tijuca, Cine Santo Afonso e Tijuquinha.

A partir de 1960, iniciou-se a construção de edifícios nas ruas mais importantes como a Conde de Bonfim e Hadock Lobo que, progressivamente, estendeu-se por todo o bairro. Esta verticalização urbana também foi favorecida pela abertura dos túneis Santa Barbara (1963) e Rebouças (1967), que facilitaram o acesso ao bairro.

Em 1961, a Floresta da Tijuca passou a compor o Parque Nacional da Tijuca que, em 1991, foi declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO.

Por reunir facetas econômicas, sociais e culturais muito fortes, a Tijuca possui uma identidade coletiva muito forte que caracteriza os moradores do bairro, os “tijucanos”, justificadamente orgulhosos de pertencer a uma das comunidades mais expressivas da cidade do Rio de Janeiro.

Publicado na revista Rota Tijucana, agosto/2011

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