Cais da Imperatriz – Últimas notícias

Nas últimas semanas, a redescoberta das estruturas do Cais da Imperatriz, na Zona Portuária do Rio, durante as obras realizadas na Avenida Barão de Tefé, foi alvo de atenção da mídia nacional, e de promessas da administração municipal quanto à sua preservação.

Rumores, entretanto, estariam em desacordo com o verdadeiro andamento das ações no local, segundo a coordenadora de pesquisas e arqueóloga Tânia Andrade Lima.

Em uma longa conversa com este blog, Tânia se posiciona abertamente sobre o que foi noticiado na imprensa e o que está sendo posto em prática pela sua equipe:

1. Sistema de drenagem 

 
                                                           Av. Barão de Tefé – 17.03.2011

 

 
Além do Cais da Imperatriz, de 1843, os arqueólogos do Museu Nacional também encontraram, através das escavações, um trecho do sistema de drenagem executado na década de 1870 pelo engenheiro inglês Edward Gotto. Tânia esclarece que as obras atuais não danificaram o bem cultural e histórico representado pelo Cais. As atividades se deram apenas sobre o antigo sistema de drenagem:
 
“Foi encontrado o sistema de drenagem do engenheiro Edward Gotto do final do século XIX. Na época, provavelmente, ele encontrou as costaneiras do Cais da Imperatriz, as retirou, implantou o sistema com tubulação de ferro inglesa, reassentando em seguida algumas pedras que haviam sido removidas, tendo em vista a preocupação com o paisagismo da área. Ou seja, mesmo após a implantação do sistema de drenagem, se manteve a função do Cais.
 
Esta forma de drenagem foi absolutamente espetacular, pois nesta ocasião só existiam duas cidades no mundo que possuíam sistemas semelhantes – Londres e Hamburgo.
 
Houve um rumor de que estes bens estariam sendo destruídos, mas eu tive o forte cuidado de desmentir. As pedras que foram retiradas correspondem apenas ao sistema de drenagem do Gotto e as costaneiras da Imperatriz”, esclarece a arqueóloga.
 
Segundo a coordenadora é mais importante para o Rio de Janeiro, não somente tecnicamente, mas socialmente, ser drenado, do que tentar se preservar um sistema de esgotos do século XIX, apesar do mesmo ser interessante.
 
As obras na Avenida buscam erradicar os constantes alagamentos na via, pois toda a área foi formada a custa de um enorme aterro da Baía da Guanabara, prática usual até poucos anos 
 
2. A ordem é preservar
 
Firme e taxativa, Tânia Andrade ressalta sobre a importância da preservação do Cais da Imperatriz.
 
“Tenho um compromisso com a preservação, dediquei a minha vida a isso. Mas precisamos refletir sobre cada situação. Se não passamos a drenagem aqui, condenamos a cidade a morrer afogada em função de um sistema de drenagem de 1876. O Gotto não passou isso aqui à toa. É uma calha natural”, afirma, acrescentando que o Cais da Imperatriz não foi um achado fortuito.
 
“Temos um projeto há seis meses. Estamos lutando dramaticamente pela preservação deste Cais. Ele tem um simbolismo, uma força enorme. Cada vez que vejo essas pedras, imagino a dor, o sofrimento, a angústia das centenas de milhares de escravos que por aqui passaram. O que é mais importante neste contexto todo, está sendo preservado”, conclui.
 
 

 

Outras escavações podem esclarecer melhor as configurações do Cais. Entretanto, o processo pode ser moroso, dependendo de autorizações, já que existem redes subterrâneas de água, luz, telefone e fibra ótica que precisariam ser interrompidas.
 

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4 Resultados

  1. Existe a possibilidade de haver alguma parte do cais do Valongo ainda soterrada?

    • Sonia Rabello disse:

      Caro Ronaldo. Não sei lhe informar. Mas, existe sim, uma parte importante dos trapiches que estão totalmente enterrados. Publiquei fotos a respeito. Abraço. SR

  2. Diogo disse:

    Os canos de ferro e as pedra foram recolhidos e estão guardados.

  3. Segundo a Professora Tania, o cais original naquele ponto já havia sido mexido na ocasião da implantação da drenagem de Gotto, em 1870. Mas, muito importante, teria havido, então, o cuidado de repor tudo no lugar, reconstituindo o Cais da Imperatriz naquele ponto. De uma certa forma a arqueóloga dá a entender que o desmonte atual daquele pedaço do cais não é tão importante em função de já ter sido mexido naquela ocasião. Acho esta opinião problemática. Uma drenagem de 1870 já é história. E ainda mais que tiveram o cuidado de não danificar o cais. A verdade é que o Cais da Imperatriz foi cortado sim. É possível que não houvesse outra alternativa mas, de qualquer forma, esse debate necessitava ser mais ampliado e não foi. Os canos em ferro vindos da Inglaterra teriam sido recolhidos, assim como as pedras.

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