Cine Vaz Lobo, um exemplo de resistência

Em meados do século XIX, o atual bairro de Vaz Lobo, na Zona Norte do Rio, era uma extensa área rural, entre os morros do Sapê e da Serrinha, com grandes chácaras, onde se cultivava café, aipim, e batata doce.

 
O nome do largo e do bairro tem origem numa dessas chácaras que, situando-se no cruzamento com a estrada de Irajá (Avenida Monsenhor Félix), era de propriedade do Capitão-Tenente José Maria Vaz Lobo.
 

No início do século XX, a região já não se caracterizava como produtora agrícola. E o Largo de Vaz Lobo se firmava como seu centro comercial e social, principalmente, quando se tornou o entroncamento dos bondes elétricos que, em 1928, passaram a ligar Madureira a Irajá e, em 1937, à Penha. Ali por perto, fundaram-se importantes escolas de ensino secundário como o Ginásio Manoel Machado (posteriormente Colégio Cristo Rei) e o Ginásio Republicano.

Também em suas imediações, a freguesia católica de Cristo Rei construiu a sua primeira capela que, em 1954, foi substituída pela atual igreja, considerada uma das mais belas edificações religiosas do subúrbio carioca.

 

Entre 1906 e 1920, o crescimento da população da baixada de Irajá havia atingido a marca de 263% e, no final dos anos 30, o Largo de Vaz Lobo consolidava-se como um point. Neste cenário, surge o Cine Vaz Lobo!

Cine Vaz Lobo ainda em funcionamento na década de 1980

Ele foi fruto da iniciativa do emigrante português Antônio Mendes Monteiro que, em 1939, adquiriu uma área triangular, fronteiriça ao Largo, entre as atuais Av. Vicente Carvalho e Rua Oliveira Figueiredo, nela construindo uma sala com capacidade de 1.800 lugares.

Para cobri-la, ergueu-se uma a laje que, à época, foi o maior vão livre do subúrbio. O prédio, em estilo Art Déco tardio, valorizava o espaço urbano do largo por sua configuração artística, marcando a fisionomia de Vaz Lobo.

 

Inaugurado em 1941, com a presença da então primeira-dama da República Dona Darcy Vargas, o Cine Vaz Lobo tornou-se, até o final da década de 60, uma importante referência cultural não só da região, mas em ponto de encontro da elite carioca, que o frequentava pela excelência de sua programação.

 
 
Imagem do Selo dos 70 anos
da inauguração do Cine Vaz Lobo

Com a decadência dos cinemas de rua, a partir do fim dos anos 70, o Cine Vaz Lobo resistiu bravamente até 1986, quando fechou definitivamente suas portas. Sua preservação se deveu à persistência do patriarca da família Mendes Monteiro, que não admitiu vendê-lo para um templo religioso.

Em 2009, com a morte do patriarca, instaurou-se, por parte de seus herdeiros, uma indefinição quanto à destinação do imóvel. Junte-se a isto, o rolo compressor representado pelo projeto de construção da Transcarioca, que incluía em sua mira o terreno do Cine Vaz Lobo para nele, além da pista da via, ser construída uma praça.
 

Condenado, o Cine Vaz Lobo foi salvo pela mobilização de moradores e pesquisadores locais. Dentre eles, é importante registrar a atuação da estudante de arquitetura, Fernanda de Oliveira Nascimento Costa, junto à Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, demonstrando aos projetistas do Corredor Transcarioca a importância da preservação do Cine Vaz Lobo.

Imagem da proposição urbaní­stica para a preservação do prédio do Cine Vaz Lobo e revalorização do seu entorno em consequência da implantação da Transcarioca e o seu impacto sobre o Largo de Vaz Lobo, que então deixa de existir

Com isto, foi feito um desvio do traçado da via, criando-se uma alteração de projeto que preserva o prédio, cuja importância histórica e cultural é inestimável para o bairro, a cidade e o estado.

 
O recentemente criado Instituto Histórico e Geográfico Baixada de Irajá (IHGBI) “pilota” o Movimento Cine Vaz Lobo, que tem por objetivo conservar e recuperar o prédio e transformá-lo em Centro Cultural de artes cênicas e audiovisuais.
 
O Cine Vaz Lobo é um exemplo de resistência e de mobilização de uma comunidade pelos seus valores históricos e culturais. Este Blog a parabeniza e coloca-se como interlocutor de sua causa. E lembra, também, que a Bicuda Ecológica tem um papel atuante no Movimento Cine Vaz Lobo.

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5 Resultados

  1. Ana lucia da cruz amaral disse:

    CINE VAZ LOBO, FOI O LOCAL DE DIVERSÃO DE UMA FAMÍLIA MIGRANTE, NORDESTINA,DENTRE ELES, ESTAVA MINHA MÃE, EURIDICE INOCCENCIODA CRUZ.COMEÇOU A FERQUENTAR OCINE VAZ LOBO, AOS 13 ANOS,EM1943.QUEM DIGITA É FILHA DELA.TENHO UM GRDE APREÇO POR ESTE CINEMA E POR ESTE BAIRRO.MINHA MÃE FEZ GRDES AMIGOS AÍ E FOI FELIZ, MUITO FELIZ.OBRIGADA POR TANTO VAX LOBO….😪

  2. JOÃO BITTENCOURT DE OLIVEIRA disse:

    Fico extremamente estarrecido diante da destruição “orquestrada” de um de nossos grandes patrimônios culturais: os cinemas de rua. Na minha juventude, residi nas proximidades da Praça Saens Peña, onde havia cerca de sete cinemas. Lamentavelmente, a voracidade do capitalismo selvagem destruiu todos, transformando seus espaços artísticos em igrejas protestantes, drogarias, lanchonetes, etc. Tenho acompanhado o movimento em favor do tombamento do Cine Irajá. Outros, que na minha opinião, mereceriam ser tombados e restaurados são o Rosário, em Ramos e o Olaria, no mesmo bairro.

  3. Anonymous disse:

    Sra. Vereadora Sonia Rabello,

    Acabei de ser informada, pela minha orientadora de TFG – Profa. Andréa Sampaio – sobre a divulgação do movimento em defesa do Cine Vaz Lobo em seu blog.

    Deixo aqui registrado o meu agradecimento pelo reconhecimento e pela divulgação do trabalho que vem sendo realizado em favor da preservação do patrimônio cultural da nossa cidade.

    Att.

    Fernanda Costa
    Arquiteta e Urbanista

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