Harari e suas lições sobre o século XXI

Yuval Harari, autor de livros mundialmente famosos e editados aos milhões a exemplo de Sapiens: Uma breve história da humanidade e Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, surpreendeu-me, mais uma vez, com um livro muito interessante a respeito de sua visão sobre o futuro, que já chegou. Trata-se de 21 Lições para o Século XXI.

Pela leitura vemos que o que se passa no Brasil, e no mundo, não é um fenômeno raro e desconhecido. Algumas passagens se encaixam com a nossa realidade presente. Daí que, estando lá descritas, renasce a esperança, já que o que vivemos trata-se apenas de mais um giro comum da História da Humanidade, que roda como uma espiral.

Parece uma volta ao passado, mas é apenas a semelhança nos processos históricos, cujos avanços incluem reações em contrário, mas que também passarão para seguirmos em frente.

Compartilho com os leitores deste blog alguns trechos da leitura que me emocionaram neste final de semana.

Falando da Rússia atual – qualquer semelhança é mera coincidência-, onde o mito é Putin.

“A Rússia oferece uma alternativa à democracia liberal (*1), mas este modelo não é uma ideologia política coerente; é uma prática política na qual poucos oligarcas (*2) monopolizam a maior parte da riqueza e do poder de um país, e depois usam a mídia para ocultar suas atividades e consolidar seu domínio.  (…) Mediante o monopólio da mídia (*3), a oligarquia pode sempre culpar os outros por suas falhas e desviar a atenção para ameaças externas – reais ou imaginárias

Quando se vive sob tal oligarquia, sempre haverá alguma crise [substitua-se crise por escândalo ou notícia bombástica] que parece mais importante que coisas fastidiosas como o sistema de saúde ou a poluição.  Se uma nação está enfrentando uma invasão externa ou uma diabólica subversão [dita de valores, ou de corrupção], quem tem tempo para preocupar-se  com hospitais superlotados e rios poluídos? Ao fabricar uma torrente de crises, uma oligarquia corrupta pode prolongar seu domínio indefinidamente. (…)

Diferentemente de outras ideologias que expõe com orgulho sua visão, oligarquias dominantes não se gabam de suas práticas, e tendem a usar outras ideologias como cortina de fumaça. Assim, a Rússia pretende ser uma democracia, e sua liderança proclama lealdade aos valores do nacionalismo russo e do cristianismo ortodoxo (*4) – e não à oligarquia. (…) – um país com corrupção endêmica (*5) , serviços que funcionam mal, sem estado de direito, e com uma desigualdade assombrosa. Segundo certos parâmetros, a Rússia é um dos países mais desiguais do mundo, onde 87‰ da riqueza concentrada em 10‰ mais ricos da população.

[Assim] As pessoas podem também desistir totalmente de ter uma narrativa global de qualquer tipo, e buscar abrigo em lendas nacionalistas e religiosas locais. Os nacionalistas foram um fator político importantíssimo no século XX, mas careciam de uma visão coerente para o mundo que não fosse a de apoiar a divisão do globo em Estados-nação independentes*5.”

Acho que nosso modelo aqui está mais para a democracia da Rússia de Putin do que para a democracia dos EUA, Canadá, Alemanha ou Japão…

(*1) A democracia liberal reconhecida como tal no livro é aquela que “aprendeu com o comunismo a expandir o círculo de empatia, e dar valor, além da liberdade, à igualdade. [E que] no começo no começo se preocupava com as liberdades e privilégios de homens europeus da classe média,” mas que hoje, além de acreditarem só no livre mercado, também acredita nos direitos humanos e na responsabilidade social. “A liberdade não vale muito se não vier acompanhada de algum tipo de segurança social.”

(*2) Oligarcas de lá, e daqui, conservam seus privilégios econômicos e corporativos. Às vezes, os personagens do poder mudam, para tudo continuar como antes…

(*3) A mídia é a formal, mas hoje é sobretudo a das redes sociais.  Quem a alimenta e domina, pelas suas técnicas e emoções, retroalimenta as falsas crises, e cria as convenientes cortinas de fumaça.

(*4)Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”…?

(*5) Por aqui, quem acredita que a nossa corrupção não era endêmica? Parou de existir? Por que seu combate parou de aparecer? Não a combatemos mais?

2 Resultados

  1. Lucia shibuya disse:

    Tb li este livro do Harari e agora vou começar HOMO SAPIENS.

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