Nosso Parque do Flamengo: traído!

Vejam o trecho premonitório escrito pelo arquiteto Paulo Santos, em seu parecer de relator, no processo de tombamento do Parque, e que as novatas autoridade do IPHAN querem ignorar, ou pior, trair.

[O conjunto deveria] ser preservado, não só para que não seja alterado no seu traçado pelas administrações futuras, como para ser convenientemente conservado. (…) O perigo maior consiste na inclusão futura na área ajardinada, de pavilhões de diversão, restaurantes, cinemas e quejandas edificações, como assim bustos de figuras nacionais e etc, inclusão que, tendo a justificá-la o interesse prático ou cívico das iniciativas, poderá sacrificar irremediavelmente a beleza do conjunto” (Paulo Santos, relator, proc. de tombamento, IPHAN, 1965). grifos nossos

Sábias palavras.  O pior é que, no caso, o interesse não foi cívico, e, se foi prático, há de se descobrir para quem, e como.

A dita aprovação de um projeto privado na área pública de uso comum do povo – no Parque do Flamengo/Marina da Glória – é um dos maiores escândalos fundiários na Cidade do Rio de Janeiro.

No ano passado, quando uma missão da UNESCO esteve na Cidade para avaliar a proposta da candidatura do Rio como Paisagem Cultural da Humanidade, não foi dito àquela instituição internacional que as autoridades municipais, em conluio com a federal pretendiam trair o projeto original do Parque, tombado pelo IPHAN, a pedido do então Governador Carlos Lacerda.

O Parque foi apresentado como uma referência para o título, como se o seu projeto original fosse ser respeitado!  Dado o título, agora a traição!

O tombamento do projeto original do Parque do Flamengo foi decidido justamente porque, há mais de 47 anos, os seus criadores – especialmente Lota de Macedo Soares – sabiam da cobiça de alguns “empresários” que, aliados com maus governantes, resolvem sempre fazer e multiplicar suas riquezas através da tomada e da exploração do patrimônio público.  

Nossa história comprova esta triste tradição, cuja cultura ainda não foi superada.

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6 Resultados

  1. Sonia,
    desde meu tempo de PMCRJ, convivi com interesses e pressões do poder privado em detrimento do espaço e do patrimonio público. É com tristeza que assisto essas apropriações do Parque do Flamengo com a conivencia do IPHAN.
    Apoio sua luta na defesa do Parque do Flamengo

  2. Prezada Sônia

    Temos o caso da Marina da Glória, o caso do Centro de Convenções das Paineiras, o caso do estacionamento no Jardim Botânico, o caso do teleférico do Leme, o caso do bondinho de Santa Teresa e, possivelmente, outros mais que me escapam. Todos eles se referem a projetos que se pretende realizar na área de Patrimônio Paisagístico da Humanidade tombada pela UNESCO.

    A sociedade civil, com destaque para as Associações de Moradores, tem se mobilizado em movimentos que visam impedir a realização desses projetos. Sugiro articular esses movimentos todos, para, juntos procurarmos, aquela agência das Nações Unidas. Pode não surtir resultado direto, mas servirá, ao menos, como canal de denúncia internacional do que está acontecendo em nossa cidade.

    O

  3. O interesse publico, como sempre foi deixado de lado, infelizmente!!!

  4. Bravo! Sonia Rabello. É preciso mesmo protestar. O que virou o Iphan que tanto conhecemos???

  5. Sonia, mantenha sua luta!

  6. Ricardo disse:

    Por trás dessa polêmica da marina está um interesse maior: Os 400 metros de praia que serão cercados para a realização das regatas olímpicas. Com isso mister X terá completado seu intento. Terá lucro com o shopping da marina e o centro de conveções e, ao mesmo tempo, uma praia particular para os hóspedes do hotel que está reformando com dinheiro público. Sem essas invasões o hotel nunca será rentável, pois está numa área pouco badalada para turistas 5 estrelas.

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