“O Banheiro do Papa” e os mega eventos

 

“Esperançosos, os cidadãos fazem dívidas e financiam a produção que, se vendida, lhes aliviará a pobreza. (…) Sem eles não há espetáculo. Porém, nada levam no final, a não ser as dívidas”

O título diz pouco sobre o filme, mas ele é tocante. Mostrou de forma clara e comovente, a pobreza envergonhada de quem quer trabalho, luta e cava, mas vê pouca, muito pouca luz no final do túnel.

 
Há os sem trabalho nas grandes cidades e aqueles, também sem trabalho, no interior, hoje salvos no Brasil pelo “Bolsa Família”, que ajuda mas não resolve a médio prazo.

 
Não implica em compromisso social, e não contribui para a dignidade pessoal de se ganhar dinheiro pelo próprio trabalho; é somente uma esmola, estigma de pobreza e de dependência.
 
O filme mostra, sobretudo, o aspecto da luta do povo sul-americano do interior, que não tem alternativas produtivas, mas que é usado e alcançado pela máquina de uma imprensa de “circos”, e pela da indústria dos mega eventos. No caso, o grande acontecimento é a chegada do Papa na pequena cidade de Melo, no interior do Uruguai.
 
Por influência da mídia, toda a população é levada a acreditar que esse evento fará chegar à cidade milhares de pessoas, e que esta será a chance para a venda de seus produtos aos visitantes.
 
Esperançosos, os cidadãos fazem dívidas e financiam a produção que, se vendida, lhes aliviará a pobreza. Mas o Papa chega, passa poucos minutos na cidade, e a tal multidão prometida não aparece (…).
 
Para os midiáticos, o show se realizou e vai continuar junto com o discurso de grandeza que o acompanha. Chega, mas se esvai rápido, muito rápido.
 
Para os que realmente precisam, entretanto, resta apenas a sensação de terem sido usados e iludidos pelas promessas dos grandes eventos.
 
Participam como seus figurantes necessários. Sem eles não há espetáculo. Porém, nada levam no final, a não ser as dívidas.
 
Os mega eventos estão na moda, e na ponta da língua de quem promete. Segundo os mesmos, com eles “todos saem ganhando”. Será? Confira no filme (agora em DVD); vale a pena!
 
O que cabe ao Estado

 

Pela nossa organização legal, não é função essencial, nem principal do Estado promover eventos, já que estes se inserem dentro das funções da iniciativa privada. Isto porque a nossa Constituição Federal estabelece que a ordem econômica do país é organizada sob o princípio da livre iniciativa, privada !
 
Assim, o Estado só a substituirá nos casos de segurança nacional, ou de relevante interesse coletivo (ver o art.173 da CF). Ou seja, nos casos em que a iniciativa privada não atender ao mínimo essencial (como penso ser o caso da habitação popular).
 
Logo, as funções que o Estado tem a obrigação primeira de realizar são as relacionadas à prestação de bons serviços públicos, adequados e eficientes para todos – transportes, saúde, educação, segurança pública, saneamento, entre outros -, e serviços de fiscalização de interesses públicos e coletivos, entre os quais citemos a higiene, o urbanismo e a proteção do patrimônio ambiental e cultural.

 

Portanto, cabe verificarmos se o dinheiro público, previsto nos orçamentos propostos pelo Executivo e aprovados pelo Legislativo, está sendo destinado ao essencial ou ao que é suplementar. E, ainda, se há dinheiro farto para tudo!
 
Caso contrário, resta sabermos, qual a nossa real opção.

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3 Resultados

  1. Se há uma razão porque eu gosto deste filme é a participação do ator César Troncoso, um dos meus favoritos no cinema e teatro. Um filme com um enredo interessante que vale a pena ver.

  2. Sonia Rabello disse:

    Obrigado Sergius, pelos comentários sempre bem-vindos.

  3. Sergius disse:

    Nossa real opção não passa da ilusão atávica de um dispendioso "panis et circencis" que só resolve o altíssimo lucro dos senhores feudais, enquanto o coletor de impostos, com seus soldados armados com a intransigência tirânica real, seus escudos ornamentados com a agressiva figura de um leão alucinado resolve aumentar as cotas daqueles que trabalham apenas para garantir sua humilhante condição serviçal.
    Nos Coliseus, paga-se o dobro pelos ingressos, nas mãos de cambistas, e para comer, ao invés do pão distribuído pelo C(e)zar do Plitbüro, também obriga-se à compra de batatas fritas e refrigerantes das multinacionais que mais pagaram para receber o privilégio da distribuição.
    A flamejante bandeira brasileira representa a união de esforços de pais, instrutores, treinadores e do próprio atleta em participar de um dos poucos grupos unidos do povo.
    Portanto, estejam todos os atletas a postos, os súditos coloridamente vibrantes, aguardando o início dos jogos e a declaração sobre o novo déficit causado por mais esse desperdício.
    Enquanto isso, os senhores feudais conseguem impedir o afluxo da grande massa aos jogos, pois se encarregam de dissipá-la em castas, com o visível intuito de enfraquecê-la e impedir a força de sua união. Embora tenham os mesmos direitos à riqueza nacional, nem chegam próximo ao Coliseu, por absoluta pobreza material e espiritual, pois são iludidos com “bolsas miséria”, farta isenção de deveres e, portanto, também impedidos de seus direitos, reivindicações e cidadania. Fato que satisfaz e alegra ao C(e)zar do Politbüro, pois as verdadeiras mazelas de um país amorfo e desassistido não contrastarão com a pompa, aparente união e o porte atlético dos competidores, esses verdadeiros fantoches de uma hipocrisia orquestrada.
    Não é à toa que no Brasilis Feudalis, o povo trabalha para empobrecer-se, gasta sua herança ao vender suas riquezas e, apenas alguns senhores feudais enriquecem, de olhos vendados para os dejetos de seu egoísmo e descumprimento à Constituição.

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