Cultura de privilégios: há séculos impregnada…

Ensina Leo Huberman, em sua obra “A História da Riqueza do Homem”, que no final do século XVIII – logo antes da Revolução Francesa (1789) – os nobres e o clero achavam natural e politicamente correto que apenas o povo pagasse impostos.  

A nobreza não queria saber de cortar os seus privilégios em nada, ainda que o Estado Francês (o Rei), face às suas crescentes despesas, necessitasse desesperadamente de mais recursos.

Vale a pena ler o texto, já que, passados dois séculos, algumas classes privilegiadas ainda criam discursos para manter as suas graças peculiares e o Estado continua a cobrar cada vez mais, aumentando suas despesas. Mas quem está pagando a maior conta aqui e agora ?

” A classe sem privilégios era o povo, a gente comum, que tinha o nome de Terceiro Estado. Da população de 25 milhões de habitantes da França, representavam mais de 95%. (…) Pagavam impostos ao Estado, dízimos ao clero, e taxas feudais à nobreza.(…)

 Diante de reformas propostas pelo então Ministro das Finanças Turgot – 1776 – ,  assim se manifestaram os privilegiados no Parlamento de Paris, definindo claramente sua posição:  

A primeira regra da justiça é preservar a alguém que lhe pertence: essa regra consiste não apenas na preservação dos direitos da pessoa, oriundos de prerrogativas de nascimento e posição…  

Dessa regra de lei e equidade segue-se todo o sistema  que, sob a aparência de humanitário e beneficente, tenda a estabelecer uma igualdade de deveres e destruir as distinções necessárias levará dentro em pouco à desordem (resultado inevitável da igualdade) e provocará a derrubada da sociedade civil.  

(…) O serviço do pessoal do clero é atender às funções relacionadas com a instrução e o culto. Os nobres consagram seu sangue à defesa do Estado e ajudam o soberano com seus conselhos.  

A classe mais baixa da Nação, que não pode prestar serviços tão destacados, contribui com seus tributos, sua indústria e seu serviço corporal.  Abolir essas distinções é derrubar toda a constituição francesa” (grifos nossos)

É, nada mudou muito em algumas partes do mundo. Nem na mentalidade de alguns …

1 Resultado

  1. João Bremm disse:

    Em 1825, Comnte, em considerações filosóficas a respeito das ciências e dos sábios, demonstrava otimismo, convencido que “os proletários reconhecerão, sob o impulso feminino, as vantagens da submissão e de uma digna irresponsabilidade” (sic) graças a doutrina positivista que “há de preparar os proletários para respeitarem, e mesmo reforçarem, as leis naturais da concentração do poder e da riqueza… (A. Comte, Cours de philosophie positive, I, Classique Garnier, 1949, pg. 49). Essa tese parece ter chamado a atenção de Marx, que lhe dedica uma nota irônica no primeiro livro do Capital: “Augusto Comte e sua escola procuraram demonstrar a eterna necessidade dos senhores do capital; eles teriam, tão bem quanto e com as mesmas razões, podido demonstrar a eterna necessidade dos senhores feudais.” (K. Marx, Le Capital, livro I, Garnier Flammarion, Paris, 1969, pg. 631).(pg. 28, As aventuras de Karl marx contra o barão de Munchausen)

Deixe uma resposta para João Bremm Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese
pt_BRPortuguese