Cariocas fora do Maracanã

Após gastar mais de R$ 1 bilhão do dinheiro público fluminense, e contando com a adesão silenciosa do prefeito do Rio, o governador do Estado segue impávido rumo à privatização, por 70 anos (35 + 35), do símbolo mais significativo do futebol brasileiro, o Maracanã, e do seu Complexo Esportivo, o Célio de Barros e o Júlio Delamare.

As empresas sempre vencedoras de obras públicas na cidade, e outras ávidas por assumir bens públicos, supostamente disponíveis, ganharam, mais uma vez, a licitação, que está sub judice.

Confira a notícia:

NOT-grupo-com-eike-vence-licitacao-e-vai-administrar-o-maracana-por-35-anos1368123887_460_289“O Globo” – 09 de maio de 2013

Consórcio que reúne Odebrecht, AEG e Eike Batista ganha licitação do Maracanã

“O consórcio Maracanã S.A – formado pelas empresas Odebrecht (90%), IMX (5%), de Eike Batista (cujo prejuízo no primeiro trimestre chega a R$ 250,9 milhões), e a americana AEG (5%) – ganhou a concorrência pública para administrar o estádio pelos próximos 35 anos. O anúncio do novo administrador do palco da final da Copa do Mundo de 2014 foi feito nesta quinta-feira, no Palácio Guanabara, onde foram abertos os envelopes com as garantias dos dois consórcios que estavam na disputa. O Consórcio Complexo Esportivo e Cultural do Rio de Janeiro, derrotado no processo de licitação, informou que não vai recorrer da decisão. O consórcio era formado por OAS (98%), Stadion Amsterdam (1%) e Lagardère Unlimited (1%).

O resultado transforma a AEG (Anschutz Entertainment Group) no maior administrador de estádios no Brasil. Com sede em Los Angeles, nos EUA, a empresa é responsável pela administração de 120 arenas em todo o mundo. Entre as quais, estão as brasileiras Arena da Baixada (Curitiba), Arena Pernambuco e Arena Palestra (do Palmeiras, em São Paulo). A empresa pretende concorrer também à administração do Mané Garrincha, em Brasília. Mesmo tendo só 5% de participação no consórcio, a empresa foi fundamental para o consórcio na disputa. A AEG, das três, era a única que cumpria o requisito, exigido por edital, de ter experiência em administração de estádios.

No Brasil, a empresa ainda é pouco conhecida, mas há 15 anos já trabalha no ramo de entretenimento. É responsável, por exemplo, pelo Staples Center, do Lakers, em Los Angeles, pela O2 Arena, em Londres, pelo The Home Depot Center, do Galaxy, também em Los Angeles, e pelos estádios dos times turcos Galatasaray e Fenerbahçe. Apesar de tanta magnitude, a empresa foi posta à venda em 2012. Mas Philip Anschutza, seu dono, acabou desistindo da negociação.

O contrato de 35 anos pode ser estendido por mais 35. De acordo com a ata, o consórcio vencedor terá que reembolsar o governo do estado pela demolição de parte do estádio Célio de Barros. O grupo também não poderá vender os camarotes cujos donos conseguiram na justiça o direito de cumprir o contrato firmado antes do fechamento do estádio.

Governo atribui a ‘imprevistos’ gasto adiconal

O governo do estado atribuiu a “imprevistos” o gasto adicional de cerca de R$ 200 milhões na reforma do Maracanã. Mas não discriminou quanto gastará em cada um dos `fatores alheios à vontade´ do consórcio responsável pela reconstrução do estádio.

Em nota oficial, o governo afirma que “uma obra dessa magnitude pode enfrentar obstáculos imprevisíveis ao longo da sua execução”. O principal deles, diz, `foi o expressivo aumento de quantitativo de recuperação e reforço estrutural e de demolição verificadas´.

Segundo a nota, ao longo da reforma, os técnicos descobriram que as estruturas das rampas monumentais e de cinco pavimentos do estádio precisavam ser recuperadas.

Um reforço metálico sob a arquibancada, segundo o governo, também justificou o aditivo. “Os impactos de todos os imprevistos”, diz a nota oficial, adiariam a conclusão da obra para setembro deste ano, já depois da Copa das Confederações. Por isso, “optou-se pela adoção de metodologia diferenciada para as arquibancadas (estruturas metálicas) e implantação de medidas de aceleração (turno adicional e horas extras)”, o que elevou o valor final do contrato para R$ 1,12 bilhão.”

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1 Resultado

  1. Sônia,
    Como se não bastasse o mega investimento de dinheiro público e a entrega do estádio a esse grupo de empresas, com interesses estritamente comerciais; um dado que vejo poucas pessoas comentarem, é que foi cometido outro crime talvez de maior gravidade na minha opinião – é que acabaram também por descaracterizar para sempre o nosso Maracanã.
    Não me refiro apenas ao projeto arquitetônico, mas acima de tudo, à descaracterização do estádio em todo o seu universo mítico, formado em essência, pela cultura de nosso povo – carregada de paixão e brasilidade -, dando lugar a um estádio sofisticado sim, mas altamente artificial, plastificado.. Bonito, só pra europeu ver!

    Mas.. parece que essas questões subjetivas, são invisíveis ou sem importância aos olhos de nossos governantes. A impressão que tenho é que estes, no fundo, defendem a exclusão do torcedor carioca e de todos os atributos a ele inerentes (sua alegria, bandeira, emoção, paixão) e incentivam uma progressiva elitização do esporte, tudo nos moldes da Fifa.
    Contudo, ao lado desta elitização, o grande perigo para nós é o de perdermos um pouco a nossa identidade cultural, as emoções intensas que só o Maracanã era capaz de proporcionar (e que hoje, apesar de modernizado, pode ter perdido para sempre esse colorido brasileiro, e por que não dizer, até mesmo a sua alma de Maracanã.. ) É uma pena… parece que está saindo vencedor o jeito europeu e comportado de torcer. Realmente, um novo público, uma nova história…

    Grande abraço!
    Rodrigo Acosta

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