Jornal inglês aponta quem já ganhou o Ouro Olímpico 2016

Em publicação do último dia 4 de agosto, o conceituado jornal inglês The Guardian fez uma longa reportagem sobre o empresário imobiliário que irá faturar, segundo seus cálculos, cerca de US$ 1 bilhão com a localização do Parque Olímpico na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio; Carlos Carvalho, da Carvalho Hosken. E afirma que este é o ganhador do verdadeiro “ouro” olímpico. (tradução online muito boa)

Nesta insuspeita matéria é o próprio Carlos Carvalho quem afirma que o local escolhido é para fazer investimentos voltados à elite “nobre”. E sem pobres, o que desvalorizaria seu investimento.  

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Para tal, foi ajudado pelo atual Governo da Cidade, o Prefeito Paes. Isso, apesar de o “Brasil ser um dos países mais desiguais do mundo [em matéria de distribuição de riqueza], e da falta de habitação ser um problema sério.  

O uso dos Jogos Olímpicos para criar mais residências [só] para os privilegiados não é o que o Comitê Olímpico Brasileiro estaria se referindo como “legado olímpico”.

Um contraste gritante se comparado aos Jogos Olímpicos de Londres! E agora, conforme noticiado pelo jornal “O Globo” do último dia 30 de julho,com uso de cerca de mais de R$ 70 milhões em gastos pela Secretaria da Habitação para mobiliar a vila dos Atletas!

O artigo do The Guardian  traz também o mapa das propriedades de Carlos Carvalho e ao redor do Parque Olímpico e no Parque Olímpico; neste último em parceria (consórcio) com as empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez, ambas investigadas na operação “Lava Jato”.

dinheiro_na_maoTerras públicas em “pagamento” – Estas terras somariam mais de 6 milhões de m², agora beneficiados pelas obras de infraestrutura, tais como de energia, saneamento e transporte (as novas Transolímpica, Transcarioca e Transoeste). Tudo construído com dinheiro público, valorizando ainda mais suas terras.

Ele mesmo afirma:  “The most difficult part of the development plan was the service infrastructure and the Olympics has brought that. It’s a billion-dollar jump.”

O que a reportagem não deixa mais claro é que parte substancial dessas terras, a mais valorizada talvez – a do Parque Olímpico – é (ou era) terra pública, desapropriada para ser o Autódromo do Rio de Janeiro e que foi demolido para se fazer este empreendimento.  

Nesta área pública de mais de 1 milhão de m², à beira da Lagoa de Jacarepaguá, foram atribuídos imensos índices construtivos e cerca de 70% das terras públicas com os respectivos índices serão dados ao Consórcio das empreiteiras como pagamento pelas obras de urbanização que elas mesmas usufruirão com seus prédios depois de 2016!

Isto é que o Prefeito Paes denomina de “recursos privados” das obras – provenientes da chamada “parceria” – PPP (parceria público-privada).

Vejam só: pagamento em terras públicas e em índices construtivos públicos não é considerado por ele, Prefeito, como recursos públicos!

Para hospedar os atletas nos prédios denominados Ilha Pura, com 3.604 apartamentos, o plano é um lucro de R$ 1,5 milhão de lucro por imóvel. “They plan to profit through the sale of the 3,604 apartments for up to 1.5m reais each”.

O artigo também relaciona tudo isso à retirada compulsória das famílias pobres da Vila Autódromo, à construção do Campo de Golfe em área ambiental e a concentração de terras na Barra da Tijuca nas mãos de três grandes proprietários.

E assim, com a “ajuda” da autoridade pública carioca, tornou-se um dos homens mais ricos do mundo. E, é claro, contribuindo generosamente com as campanhas políticas de quem o ajudou neste negócio bilionário.  

Mas, como é afirmado pelo Prefeito Paes, a legislação brasileira não impede que pessoas jurídicas contribuam, sem limites, para as campanhas de políticos!

Neste negócio mais do que bilionário, terras públicas são desperdiçadas; terras que poderiam realmente para um excelente projeto urbanístico-ambiental, e de habitação social. São as tais opções políticas que carregam o país e a cidade pelos mesmos caminhos, pautados numa visão de “desenvolvimento” econômico que, cremos, já ficou muito para trás!

Leiam também:

Olimpíadas e Autódromo de Jacarepaguá: negócios imobiliários!

SOS Autódromo do Rio

Meio ambiente ameaçado em Jacarepaguá

Pela manutenção do Autódromo de Jacarepaguá

Como assim não sabiam? Autódromo “rides again”

Autódromo na Mata Atlântica de Deodoro ?

Autódromo de Deodoro: uma escolha de Sofia ?

Parque Olímpico ou um contra-legado ambiental ?

“Parque Olímpico” e os edifícios na beira da Lagoa de Jacarepaguá 

ver também, as entrevistas e artigos que saíram depois da publicação deste blog:

Na BBC 1: Como é que você vai botar o pobre ali?’, diz bilionário ‘dono da Barra da Tijuca’

Na UFF:“Até quando a elite brasileira vai imaginar que pode se reproduzir em cativeiro?” – Carta Pública dos Professores da EAU

Na BBC 2: Paes ataca ‘dono da Barra’: ‘Não entendeu significado dos Jogos para o Rio’

 

 

 

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3 Resultados

  1. Este é o perfil de um país continental em tamanho, mas que ainda vive seus dias de republiqueta, de curral eleitoral de déspotas, que, ao invés de servir ao país servem-se dele.
    A política de uma republiqueta permeia toda a sociedade com seus tentáculos sustentados pelo dinheiro do próprio povo.
    Somos, portanto, um país riquíssimo em recursos naturais, em diversidade antropológica, social e cultural, embora esta riqueza seja manipulada pelos governos corruptos que se sucedem, enquanto o povo sofre com 515 anos ininterruptos de pobreza, desprezo e descaso, apesar do assistencialismo mantenedor do gado votante e encabrestado.

  2. a referência aos um milhão de metros quadrados me faz lembrar o terreno do jóquei na gávea. é mesmo: um milhão de metros quadrados, desde o hospital miguel couto até a rua general garzon (continuação da rua pacheco leão).quanta terra improdutiva murada que veda o direito de ir e vir dos moradores da gávea. a união da área do jardim botânico com a do jóquei, com o tráfego passando pelo mergulhão sob a rua jardim botânico (que nem calçada decente tem) beneficiaria a cidade, a exemplo do aterro do flamengo. afinal, a cidade é para todos…

  3. Prezada Sônia,

    A propósito deste processo de acumulação, que se dá mascarado de PPP, publiquei em fevereiro do corrente ano, no blog “À Beira do Urbanismo”, um artigo denominado “Parque Olímpico e Vila Autódromo: um caso de acumulação por múltiplos desapossamentos”, inspirado nos ensinamentos do geógrafo David Harvey. Naquela publicação, procuro demonstrar as múltiplas dimensões do processo de desapossamento em curso na implantação do Parque Olímpico.
    Abs.
    Antônio Augusto Veríssimo.

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