Lapa: reurbanização só no discurso ?

Quatro anos. Esse é o “pequeno” tempo de atraso desde a apresentação feita pela Prefeitura do Rio para pelo menos dez importantes obras de revitalização da Lapa, no Centro do Rio, e ainda não cumpridas. Será que seguem a política do “melhor da festa é esperar por ela” ? Confiram nesta matéria, as obras que não saíram do papel no bairro, incluindo estre as demandas travessias mais seguras, a drenagem da região e uma nova estação de bondes.

“Obras de reurbanização da Lapa não saem do papel”

Matéria originalmente publicada no jornal “O Dia”

Bairro teria travessias mais seguras para pedestres e outras mudanças que ainda não aconteceram

Constança Rezende

Rio – Pelo menos dez obras importantes para a revitalização da Lapa, apresentadas em 2010 pela Prefeitura do Rio, não foram realizadas. Entre os itens que não saíram do papel do projeto Lapa Legal, inaugurado em maio de 2012, estão a drenagem do bairro, a revitalização da área remanescente do Morro de Santo Antônio, uma nova estação dos bondes de Santa Teresa, a colocação de bancos na Praça Cardeal Câmara (a principal da Lapa, em frente aos Arcos) e a pintura em vermelho de cruzamentos de grande circulação de pedestres — o que reduz acidentes.

Já algumas obras realizadas não deram certo, como a recomposição espacial da Praça da Velha Guarda. O palco construído em frente aos Arcos, com painéis atrás, foi ocupado por um grande posto da Guarda Municipal, que o cercou com cones. Além disso, o gramado da Praça Cardeal Câmara durou poucos dias depois da inauguração do projeto, e hoje deu lugar a uma área de terra, cheia de buracos, que alagam quando chove.

O projeto original previa a revitalização da Praça da Velha Guarda, com palco para apresentação de shows Foto: Fernando Souza / Agência O Dia

Justificativas

A prefeitura apresentou os motivos pelos quais as obras não foram realizadas. A drenagem do bairro, que sofre de alagamentos, não foi feita `devido à impossibilidade de execução, por conta de interferências de adutoras de grande porte da Cedae´. Segundo a Secretaria Municipal de Obras, verificou-se que seria necessária uma obra muito maior, com diversos remanejamentos, o que está sendo elaborado pela Rio-Águas. A própria festa de inauguração do Lapa Legal foi cancelada por conta das chuvas.

A construção de ‘speed tables’, na Avenida Mem de Sá, que facilitaria a travessia de pedestres, também não foi feita, `por questão de segurança e para evitar que as pessoas usassem o equipamento para acessar os passeios e usá-los como estacionamento´. Já a colocação dos bancos foi descartada, após a secretaria “verificar que não seria a melhor alternativa.” Sobre a nova parada dos bondes, a secretaria afirmou que, como o sistema estava parado na época, o item saiu do projeto.

Foto: Arte: O Dia

Vereador questiona orçamento

Ao contrário das grandes obras na cidade, a revitalização da Lapa teve um valor menor do que o previsto no orçamento, por causa da retirada de vários itens previstos. Porém, no aditivo do projeto, assinado em setembro de 2012, em que a prefeitura reduziu o orçamento de R$ 12 milhões para R$ 10, 8 milhões, não foram citadas todas as obras não feitas, como a nova estação dos bondinhos.

Já no requerimento de informação requisitado pelo vereador Eliomar Coelho (Psol), a prefeitura incluiu os itens suprimidos no aditivo. Segundo o vereador, isto pode dar a entender que a prefeitura pagou por obras não executadas. `Esse projeto foi uma grande farsa, pois o valor era outro e quase nada do prometido foi feito. A Lapa está mais feia e descuidada do que antes´, disse.

Sem sinalização: áreas de travessia de pedestres deveriam ser pintadas de vermelho para evitar acidentes Foto: Fernando Souza / Agência O Dia

Obras não resolveram problemas

Para o representante da associação de moradores Lapa Noite e Dia, Bruno Sereno, os problemas estruturais da Lapa não foram sanados com as obras realizadas no projeto Lapa Legal porque as ruas continuam alagando, bancos e praças foram ocupados por moradores de rua, o gramado virou deserto e o esgoto continua jorrando.

`Infelizmente, a concepção do bairro visa mais os frequentadores do que os 15 mil moradores. E tudo acaba sendo mais planejado no sentido comercial do que de caráter efetivo para o dia a dia´, disse o morador.