Maracanã: agora descobriram seu terno e gravata?

Resumo de artigo publicado na Revista alemã Die Spiegel: a sofisticação do padrão FIFA nos estádios da Copa ameaçam o espírito verdadeiramente popular do futebol para e pelo povo.  Um tiro no pé?

Em 2011, quando ainda se iniciava a demolição do estádio, este blog publicou o artigo “Maracanã: discussão inacabada, estádio destruído” ou “Maracanã de terno e gravata”. Neste, reproduzo o artigo do arquiteto baiano Paulo Ormindo que explica porque a completa “reconstrução” tiraria as características culturais próprias do ex-maior estádio de futebol do mundo.

Agora, três anos depois, a revista alemã publica opiniões de estudiosos europeus que dizem, dentre outras coisas, que “a antiga casa do futebol brasileiro teve a sua alma roubada”…

E continua: “o estádio, construído em 1950, era um símbolo contra o racismo e a ditadura. A arquibancada era redonda para que todos pudessem ter a mesma visão do estádio. Não havia divisões. Quando as equipes trocavam de lado, os torcedores davam a volta” 

“E todos podiam entrar. Duzentas mil pessoas cabiam no Maracanã, era o maior estádio do mundo. Os ingressos no anel inferior eram tão baratos que até mesmo mendigos podiam comprá-los. Os franceses tinham a Torre Eiffel. Os americanos, a Estátua da Liberdade. Os brasileiros, o Maracanã.” …

“Após diversas reformas ao longo dos anos, o estádio virou um shopping center com grama no meio [critica a revista], e os ingressos mais baratos custam 80 reais.”

Hoje o Maracanã tem a cara de qualquer estádio da Fifa. Podia estar em Londres, em Frankfurt ou em Yokohama”, lamenta a reportagem, acrescentando que “É uma arena para a televisão, e não para os brasileiros. É um assassinato cultural”.

Reforma bilionária – Bem, não foi sem luta contra e sem resistência que fizeram este outro estádio FIFA no lugar do ex-Maracanã, com o orçamento de mais de R$ 1,2 bilhão. Em agosto de 2011, publicamos a lamentável decisão da Justiça Federal, que não acolheu o pedido de liminar contra a demolição do Maracanã feito pelo Ministério Público Federal.

Em abril de 2012, também publicamos o blog – “Maracanã: Cheque-mate no coração cultural do Rio” – no qual abordamos parte da discussão havida no IPHAN, entre sua Superintendência (que autorizou a demolição) e o Conselho do órgão que a condenou ! Enfim, tudo já sabido e anunciado.

Muitos outros blogs sobre o assunto foram publicados*, inclusive sobre  a sua privatização, depois da bilionária reforma, quando a Lei Orgânica que rege a Cidade, mandava que ele fosse incorporado ao patrimônio do Município.  

Nem o então governador Cabral, nem o atual prefeito Paes, tiveram a menor consideração para atender ao determinado pela lei !

Bem, os processos na Justiça ainda tramitam. Outros ainda poderão vir. Só mudarão as circunstâncias quando houver a responsabilização pessoal de quem toma as decisões. E também uma Justiça mais rápida…

* Confiram também:

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2 Resultados

  1. Estamos diante de mais uma obra superfaturada, como todas as que são feitas pelo governo em todo o país.
    A Copa não passa de um motivo a mais, para que muitos se locupletem, enquanto os que assistem aos jogos, ignorantes forjados pelos interesses e conveniências governamentais, fazem parte da milenar encenação do poder, conhecida como Panis et Circencis.
    Decepcionado como estou com a danosa política implantada pela facção criminosa que tomou conta do país consigo pensar apenas que o terno e gravata mencionado só pode ser composto se houver também o “colarinho branco”…

  2. Dª Sonia, Eu sempre frequentei o maraca e só gente de terno e gravata na tribuna, de um modo geral políticos.
    Com certeza no novo maraca, eles estarão lá e talvez até alguns técnicos.
    Agora o maraca encolheu, é verdade mais em compensação esta mais seguro e confortável, para assistir um
    bom jogo e sem ninguém o incomodo de receber um saquinho de xixi na cabeça.
    Quanto aos alemães, estão com uma dor de cotovelo sem tamanho. Eles devem fazer parte do coro dos que
    diziam: não vai ter copa. Coitados…

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