Marina Silva: o porquê do meu voto

A vantagem de ter Marina como presidente é que ela pode ser a estadista que precisamos para governar o Brasil.

Estadista, para mim, é o governante que está disposto a perder uma eleição, a perder o prestígio, a perder a aceitação e a compreensão públicas em prol de fazer aquilo que precisa ser feito. Uma raridade completa na política. Mais do que detalhes nas propostas, é o conjunto do procedimento na vida pública que conta. É ele, o procedimento, o comportamento que condiciona as decisões dos que governam.

Temos tido governantes. Mas estes, na hora “H”, abriram mão de serem estadistas. Assim foi com FHC quando fez manobras para passar a emenda da reeleição, e assim foi com Lula, quando fechou os olhos para as manobras de seus auxiliares diretos, para manter as bases parlamentares de sua governança.

As mulheres, acredito, têm mais chances de se tornarem estadistas. Isso porque, na cultura feminina, estamos convictas que, na vida, às vezes, temos que perder para ganhar. Na cultura masculina, sobretudo na cultura política masculina, a regra generalizada é o ganha-ganha. E isso pode ser bom para a manutenção dos partidos no poder, para as reeleições, mas não para atos de Estado, que exijam desapego dos governantes.

Dilma, quando iniciou seu governo, logo se mostrou disposta a implementar, no poder, a cultura feminina de governar. Disse disposta a fazer a “faxina”, a combater os “malfeitos doa a quem doer”, a governar como uma gerente.  Mas, para sobreviver politicamente, sucumbiu às exigências da governança de manutenção do poder – uma exigência, talvez, do partido que lhe deu a legenda, mas ao qual não pertencia espiritualmente. E eles lhe cobraram caro por isso.

Dilma abdicou da liberdade dos estadistas; liberdade esta que só tem aqueles que estão dispostos a, no limite dos seus princípios, perder para ganhar. Ganhar, por vezes, somente na manutenção de seus compromissos fundamentais, ainda que sem o reconhecimento imediato do seu público.

Marina Silva, para além do mero discurso, tem feito atos políticos que mostram que ela pode ser a estadista que o Brasil precisa: abriu mão do cargo de Ministra de Estado, no auge do governo Lula, quando não podia mais levar adiante a política que acreditava necessária no Ministério do Meio Ambiente. Abriu mão de continuar no PV, quando não conseguiu, no partido, o ambiente que queria para construir uma rede política de transversalidade.

Ficou sem partido, sem cargo público, sem possível visibilidade durante quase quatro anos, assumindo os riscos do possível esquecimento. Aceitou juntar-se ao PSB somente quando pôde construir, com Eduardo Campos, um mínimo de projetos comuns, sendo sua vice, apesar de ter mais votos do que ele. E agora, de antemão, declara sua intenção em não se candidatar à reeleição, declarando a perda deste poder de continuidade, em prol da liberdade de decidir sem o peso de ter que ganhar a próxima eleição.

Tudo pode mudar, sim; porém, mais do que palavras, são as atitudes que mostram que podemos ter confiança em alguém.  E, por sua trajetória, acho que podemos acreditar que Marina Silva é a estadista que estamos esperando para governar o Brasil. Por isso, meu voto é dela.

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4 Resultados

  1. Faço de suas palavras a minha: “E, por sua trajetória, acho que podemos acreditar que Marina Silva é a estadista que estamos esperando para governar o Brasil. Por isso, meu voto é dela”.

  2. Sonia,
    Meu voto também vai para Marina. Achei seu texto excelente, claro, sereno, mas com firmeza e convicção , qualidades que sempre admirei na sua trajetória como técnica e parlamentar.
    Abraços
    Lucia Neves

  3. Sonia, gostei muito da sua análise. Também votarei na Marina, pois, acho que ter coerência com as atitudes e a sua ideologia é fundamental! Isto significa ter consciência plena da realidade e ser honesto consigo mesmo – pontos de partida importantes para se ter uma prática construtiva…Não vejo na Marina aquela “ânsia de poder” a qualquer custo, e o discurso mentiroso, falso, da Dilma, que há muito abandonou os seus ideais (se é que algum dia os teve…) de termos um Brasil justo, sem os “criminosos” que vemos hoje no poder…sem mencionar as alianças “podres”, sem critérios, para alcançar, ou não perder o poder adquirido…
    Manter a “população” de renda “custeada” pelo governo na ignorância, controlada por esquemas mentirosos, é uma das estratégias mais sórdidas que um governante pode ter!!! Pão e Circo para o populacho no século 21 é inacreditável!!

  4. Nome*Hylton Sarcinelli Luz disse:

    Parabén Sônia, como sempre sua lucidez e clareza nas palavras ajudam a sociedade a compreender seus dilemas para tomar as iniciativas necessárias. Concordo com seu ponto de vista e torço para que amanhã você esteja entre os militantes da Rede Sustentabilidade, para somar na busca pela construção de uma nova política.

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