Arqueologia urbana: São Paulo em comentário

Postado nesta terça-feira, dia 21 de julho, neste site, comentário interessantíssimo do arquiteto paulista Arnaldo de Melo sobre o projeto de construção na Rua Augusta, na Cidade de São Paulo onde, segundo estudos, teria grande interesse arqueológico.

O comentário do arquiteto Arnaldo de Melo está postado abaixo do link ao nosso Em Pauta de 19.05.2015, e volta a colocar em questão a proteção da arquelogia histórica nas cidades brasileiras.

Agradecemos a postagem do comentário e recomendamos a sua leitura.

 

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Acervo Arnaldo de Melo/ Divulgação

O jornalista foi fiel no que escolheu destacar em meu relatório, quanto a importância de se realizar um estudo arqueológico no terreno, cujos proprietários (construtoras Cyrela e Setin) pretendem erguer três torres, projeto esse aprovado pelo órgão municipal em janeiro passado, à revelia de uma necessária atenção aos remanescentes históricos que remontam a nossa modernidade arquitetônica e urbanística de mais de um século.

Entretanto, o jornalista foi, de fato, “tendencioso”, ao dizer que a “arqueologia ameaça prédios e parque…”, ignorando a noção de um Termo de Referência do IPHAN atinente ao Programa de Educação Patrimonial e Inclusão Social, cujos objetivos seriam, em suma, de vir a realizar, no interior do terreno, uma prospecção arqueológica simultânea à participação da população.

Ou seja, a arqueologia, que agora esperamos tornar-se realidade através do IPHAN, jamais restringiria o parque que queremos, aberto ao público e contando com essa máxima da Educação Patrimonial.

Tenho dado sequência a minha pesquisa em velhos arquivos da cidade, no sentido de comprovar as hipóteses arroladas no meu relatório, com vistas a interceder, por definitivo, sobre a ideia de construção nesse tão precioso terreno no centro da cidade e, por conseguinte, comprovar, também, a “inoperância” ou negligência de nosso órgão municipal de preservação histórica e ambiental.

De modo que concordo plenamente com os apontamentos feitos pela professora Sonia Rabello, que traça um paralelo com o que acontece também no Rio de Janeiro, à luz da mera especulação imobiliária que tende a se impor.

Contudo, acreditamos que o caso paradigmático do Parque Augusta virá reverter essa “lógica” especulativa, uma vez que nosso ativismo político se desdobra e se fortalece a cada dia, hoje reunindo várias instâncias jurídicas (como o Ministério Público do Estado de São Paulo), técnicas (a Universidade de São Paulo em especial) e da sociedade civil (o movimento social denominado Organismo Parque Augusta, por exemplo).

O Parque Augusta tem sido, dentre outros casos também paradigmáticos na cidade, de extrema importância no âmbito do Direito à Cidade e da construção da cidadania que, entrementes, perpassa a noção de participação popular nas políticas urbanas.

Seguiremos adiante com nossa pressão cidadã sobre as políticas urbanas, ainda que os velhacos que constroem as cidades “Peter Pan” continuem nos assombrando.

Arnaldo de Melo, arquiteto, Dr. em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo pela FAU USP.

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