Curitiba e suas múltiplas facetas: o transporte público

Curitiba está presente na mídia como sendo moderna, cidade do planejamento. Mas, precisa melhorar?

Sim, os curitibanos sabem que podem melhorar. Por isso, no III CISU (Congresso Ibero-Americano de Solo Urbano – agosto de 2017), muitas lições foram expostas. Por isso, compartilho aqui o que ouvi sobre transporte público, que desmistifica em parte o planejamento tido como excelente.

Curitiba é a cidade tida como exportadora do BRT (Bus Rapid Transit), aqueles ônibus extra grandes, com via exclusiva e estações especiais, e que são hoje a opção de transporte de massa de muitas capitais brasileiras.

Pois bem, se num primeiro momento elas foram uma boa solução, hoje já não estão dando conta do recado. Em 40 anos desde a sua implantação naquela cidade, já não atende a quem mais precisa, a população de baixa renda e que vive na periferia. Estes, para acessar o BRT, necessitam ir ao terminal e pegar o ônibus coletor, nem sempre bom, acessível e próximo.

E o que dirá do transporte na sua região metropolitana, que tem 3 milhões e 400 mil habitantes, composta de 29 municípios! O acesso e a integração ainda não têm perspectiva, apesar dos 40 anos de planejamento e muito dinheiro investido.

Hoje, Curitiba tem uma diminuição de pessoas que usam o transporte público, e a cidade tem a maior frota brasileira (proporcional) de veículos privados dentre as capitais!  Portanto, algo de estranho para a capital-modelo brasileira do BRT. Tem uma população, na capital, de 1 milhão e 700 mil habitantes, e nem pensa em fazer metrô.

O BRT, por ser mais barato e rápido de se construir, sempre acaba prevalecendo sobre o planejamento de transporte de massa metroviário e/ou ferroviário. Morando na periferia de Curitiba, o morador que pega sempre mais de uma condução, leva, em média, mais de uma hora para chegar a seu destino.

Propostas de transporte de massa de médio prazo, mais custosas, e que geralmente envolvem as regiões metropolitanas, não têm tido nenhum sucesso, de modo geral no Brasil. Não atraem os governantes, sempre transitórios, mas que ainda dão a ultima palavra nestas decisões, infelizmente.  

Também porque o governo das regiões metropolitanas ainda não emplacou, apesar das metrópoles brasileiras tenham crescido de importância. Em alguns lugares formam uma só cidade conurbada.

Em Boston, planejamento e investimentos

Como estive a pouco tempo em Boston, não resisto a uma comparação.  A cidade norte-americana, (muito menor do que Curitiba, com 670 mil habitantes),  tem uma extensa linha de metrô, com 60 Km de extensão, e cinquenta e uma estações.

Está conectada com o trem, que acessa cidades vizinhas como Cambridge, aonde estão localizadas as famosas universidades de Harvard e do MIT (Massachussets Institute of Technology).  

Vejam abaixo o mapa do metrô, administrado por uma autoridade pública  e com invejável planejamento e investimentos de mais de um século!

Interessante a informação de que a agência pública (de origem privada), e que administra o transporte público da grande Boston, é a segunda maior titular de terras da região, sendo que a primeira é o Departamento do Conservação  e Recreação ,vinculado ao Estado de Massachusetts (Massachusets Commonwealth).

Com toda a fama de “privatistas”, eles não abrem mão da administração pública destes patrimônios de uso e serviço público.

Dinheiro público perdido

Finalmente, voltando à Curitiba, os eixos estruturais do BRT deram ensejo ao projeto de adensamento de suas marginais, com altos índices de edificabilidade de suas construções, que ainda não se completou.

Os prédios construídos nos eixos estruturantes são de alta renda, e talvez não seja a população que mora nestes prédios, a que usa este transporte público.

Eixos em preto

E, sobretudo, não foram cobradas as outorgas onerosas do direito de construir, a partir do índice básico 1 às altíssimas edificações nestes eixos.

A consequência disto: a cidade perdeu muito dinheiro público que poderia ser investido em melhorias do seu transporte público, dito exemplar.

A estabilidade do planejamento urbano, aí inserido o de transporte público e das suas decisões técnicas participativas, parece essencial para a qualidade deste investimento, que não pode ficar à mercê de cada prefeito ou governador eleito.  

Talvez, sua política tenha que se submeter às diretrizes normativas obrigatórias de órgão nacional e estadual – conselhos normativos – para permitir o planejamento de médio e longo prazos, tão essenciais para viabilizar um planejamento consistente.

Mas isso, é a conversa sobre um próximo capítulo sobre Curitiba. Acompanhem…

 

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